Evolução Sexual III
13:59 Por Marco
Me perguntaram, depois de explicado no post anterior a razão biológica pela qual as pessoas se sentem atraídas umas às outras, onde fica o sentimento?
Apesar de sua origem (a evolução) ser puramente egoísta, o sentimento, no caso das relações romântico/eróticas entre homens e mulheres, pode ser definido grosseiramente como altruísta, generoso, do tipo genuíno "bem-querer". Sendo um estado de espírito intimamente relacionado à aceitação, admiração e auto-valorização. Embora haja também participação, infelizmente, de agressividade, inveja e disputa. Todos evidentemente pólos opostos da conceituação de amor. Ou, para alguns, este sentimento romântico surge para justificar e purificar o impulso sexual, que leva rótulo de culpa e pecado quando realizado sem finalidade reprodutiva. Será?
A necessidade vital de todos temos de nos ligar de uma forma forte e especial a alguém do sexo oposto (ou do mesmo sexo, no caso dos homossexuais) advém, tudo leva a crer, da sensação de ser incompletos e frágeis diante do mundo. Seria a expressão, que explanarei em outro post, da tentativa inconsciente de retornar à placidez e segurança do útero e à união forte e quase total com outro ser: a mãe.
Para explicar esse tipo de impulso, a literatura mitológica da antiga Grécia nos diz que tudo adveio de um castigo dos céus. Teria existido, na Antiguidade, um animal formado por quatro pares de membros, duas cabeças e dois troncos que, sentindo-se poderoso, entendeu de desafiar os deuses. Como castigo, Zeus o dividiu ao meio, resultando o ser humano que hoje somos: fracos, inseguros e necessitando terrivelmente de outra metade que nos complete e fortaleça.
A mim se afigura muito curiosa a semelhança entre essa história e a do pecado original. Ambas associam o início da aventura humana, e o sofrimento a ela iminente, a erro e castigo. Não me parece estranhável então que a sexualidade e a culpa tenham estado quase sempre juntas, ao menos em nossa civilização ocidental.
Ao longo de quase toda a história, com um possível intervalo breve na Grécia e Roma antigas, o sexo tem sido, na cultura judaica-cristã, associado a pecado, a algo sujo e mau. Haveria uma única maneira de 'limpá-lo' e, em certa medida absolvê-lo: se praticado em nome do amor ou, como um dever, em nome da necessidade de procriação. Ainda assim, e mesmo em nossos dias, ele se reveste ainda de uma pesada conotação de culpa e pecado.
Criou-se então, particularmente em nosso mundo ocidental, a aura e o mito do amor romântico, ou seja: aquele sentimento nobre e elevado que atrairia de forma intensa um homem e uma dada mulher, e somente ela, e vice-versa; que conteria uma fortíssima carga de desejo sexual porém seria mais que isso.
O amor romântico, no entanto, não existe desde os primórdios. Como citei em posts anteriores, na época das cavernas, e por muito tempo depois, o que ligava homens e mulheres era o desejo físico, indiscriminado e passageiro, como se observa hoje entre os animais. A tendência à formação de um casal mais ou menos estável adveio muito mais das necessidades práticas ligadas à criação dos filhos e à sobrevivência que à existência do que hoje chamamos de amor.
Foi somente a partir da Idade Média, e em especial do século XVIII pra cá, que poetas e trovadores passaram a cantar o amor e a paixão. É interessante observar que, ainda hoje nas civilizações orientais, esse tipo de amor em grande parte inexistia ou tenha muito menos importância. Os casamentos ainda são, como regra, "arrumados" entre famílias, obedecendo muito mais a conveniências materiais e políticas que a qualquer afinidade entre os cônjuges.
Não quero com isso negar a existência do amor romântico. Ele existe e, a meu ver, confunde-se as vezes com o que chamamos de paixão. Mas quero dizer, e a idéia não é originalmente minha, que é ele um fruto da cultura, e não filho da natureza. A associação que tendemos a estabelecer entre amor e sexo vem, como disse, da necessidade cultural de "purificar" o sexo. Mas não há como negar a evidência, de que o amor romântico e o sexo estão inevitáveis e fortemente associados: este pode existir, e existe, sem aquele, mas é o impulso sexual, "purificado", que está na raiz do amor romântico ou da paixão. Já o amor "platônico" existe apenas quando não é possível aos amantes, de nenhuma maneira, concretizá-lo no plano físico.
Mas a força e o impulso do desejo sexual serão sempre o motor de tudo, e para saciá-lo, expõem-se os amantes a todos os riscos: à morte, à humilhação, à ruína ou ao que mais seja necessário. Como disse Dante, "o amor é o sentimento que move o sol e as estrelas". Mas o que move o amor, esse tipo de amor que se confunde com a paixão, é, não tenho dúvidas, o sexo.




22 de agosto de 2009 às 17:30
caralhooooo tonho..... falo tudo.... mto mto mto mto mto bom mesmo...
posta sempre mano..... tava com saudade....
23 de agosto de 2009 às 23:42
Por diversas vezes fiquei a devanear sobre o tema amor romântico versus amor ideal... Acho que biologizar o ser humano seria a maneira mais fácil de explicar isso. Concordo que o que chamamos de amor hoje em dia seja fruto da cultura, mas como disse Aristóteles, somos animais sociais, e vários conflitos nossos são resolvidos através de imposições do que chamamos de moral. Então não existe como fugir disso. Ao meu ver o sexual e o romântico estão hoje tão intrincados que não há mais como separá-los. Não posso ver uma união que se mantém só por "sexo". A história nos mostra e vários pensadores afirmam que uma hora ou outra o que era apenas cultural se torna parte da nossa própria espécie, afinal, amar tb mantém a genética. Mas fiquei pensando aqui, somos nós que fazemos a cultura ou a cultura que nos faz? Acho que esse é o ponto que desencadeia tds as tramas sociais que podemos ver hoje.
Adorei como vc escreve!